Saturday, April 9, 2011

Tatuagem Polinésia

A tatuagem polinésia é uma das mais artísticas em todo o mundo antigo.
Ela se desenvolveu durante milhares de anos nas ilhas do Pacífico e, em sua forma mais avançada, era caracterizada por designs geométricos muito elaborados. 
Os desenhos eram normalmente incrementados, aumentados e renovados durante a vida da pessoa, até que seu corpo ficasse completamente coberto. 
Podemos imaginar o quão surpresos ficaram os europeus que praticavam safári no século 18 quando, depois de passar meses navegando, viram um arquipélago de ilhas tropicais no Pacífico, com seus picos vulcânicos, largos vales, solo fértil, vegetação abundante e lagoas de corais escondidas fervilhando de peixes coloridos.
Era uma beleza natural estonteante, jamais vista por olhos europeus.
Isolados e protegidos de inimigos naturais, predadores e doenças, os polinésios pareciam ser o protótipo do selvagem nobre e místico, que vivia em um estado total de inocência. Os homens eram altos, muito bonitos, fenomenalmente fortes e corajosos em esportes e guerras. As mulheres eram sensuais, sedutoras e ainda não estavam contaminadas por nenhum tipo de inibição puritana. 
Eles dedicavam seu tempo a ocupações bem mais interessantes: combates, os prazeres sensuais, arte dramática, danças e cantos cerimoniais, natação, pesca, construção de canoas e realização de festivais religiosos. 
Eles se sobressaíam em artes e desenhos. Tudo o que faziam era decorado: canoas, potes, armas de guerra, ferramentas e até mesmo seus corpos eram marcados com desenhos bastante elaborados. A arte da tatuagem fazia parte da vida destas pessoas de forma natural. 
Acredita-se que a Polinésia foi ocupada por habitantes vindos da parte sul da Ásia que, gradualmente foram habitando as ilhas da Melanésia do Norte. Evidências sugerem que as áreas da Nova Guiné foram ocupadas há cerca de 50 mil anos. 
Chamados de Lapitas, por causa de um tipo de cerâmica que produziam. A cerâmica Lapita é um assunto de interesse especial para a história da tatuagem, porque nos fornece a mais antiga evidência que prova a natureza dos motivos das tatuagens polinésias. 
Muitos dos potes e vasos de cerâmica da cultura Lapida traziam decorações neles gravados, que consistiam em elementos em forma de V, figuras geométricas interligadas e motivos estilizados, semelhantes a máscaras e criaturas do mar. Motivos similares são encontrados nas tatuagens da Polinésia e até mesmo a técnica de gravar os desenhos em séries muito próximas, feitos com pontilhados, sugere que a técnica utilizada na decoração da cerâmica era um tanto quanto similar à usada na tatuagem. 
Diversos tipos de estatuetas, feitas em diferentes tipos de materiais e decoradas com desenhos semelhantes, foram encontradas juntamente com instrumentos utilizados para tatuar, em sítios arqueológicos dos Lapita. Estes instrumentos, dos quais alguns datam de mais de três mil anos atrás, consistem em pedaços achatados e bem delineados de osso, sendo que uma das suas extremidades possui a forma de um pente, com dentes bastante pontiagudos. Eles eram presos a um longo cabo de madeira. O artista mergulhava o instrumento em um pigmento negro, feito de fuligem e água, e fazia a tatuagem batendo levemente no instrumento com uma pequena marreta. Esta técnica, que jamais foi encontrada em outra parte do mundo, foi bastante comum em toda área do Pacífico e continua sendo utilizada até hoje por artistas tradicionais em Samoa. 
Embora a produção de cerâmica tenha cessado na época do nascimento de Cristo, a arte da tatuagem tornou-se mais e mais sofisticada. A tatuagem praticada nas ilhas Fiji era um tanto quanto mínima, estando limitada à área pubiana das mulheres. De acordo com lendas antigas, variações do que foi registrado em Fiji, Tonga e Samoa, duas embaixatrizes introduziram a arte da tatuagem em Tonga e Samoa.
As duas mulheres eram tatuadoras e entraram a bordo de um navio com suas ferramentas, cantando: “Tatuem as mulheres, mas não os homens!”. Durante a viagem, elas encontraram uma variedade de infortúnios, que iam desde tropeços até encontro com furacões e gigantes comedores de mariscos. Como resultado, na hora em que chegaram em Tonga, elas ficaram confusas e passaram a cantar: “Tatuem os homens, mas não as mulheres!”. 
Foi em Tonga e Samoa que a tatuagem polinésia se desenvolveu, tornando-se uma refinada forma de arte. Os guerreiros de Tonga eram tatuados da cintura até os joelhos, com figuras geométricas dispostas em série, que consistiam em motivos triangulares repetidos, faixas e áreas negras sólidas. As tatuagens eram feitas por sacerdotes, os quais se submetiam a um longo período de treinamento e seguiam à risca uma série de rituais preestabelecidos, durante o processo de tatuamento. Para os habitantes de Tonga, as tatuagens possuíam profundos significados sociais e culturais. 
Na antiguidade das ilhas Samoa, rituais e combates eram passatempos populares e a tatuagem era um fator importante em ambos. O tatuador possuía uma posição altamente privilegiada e hereditária na sociedade das ilhas. Eles costumavam tatuar grupos de seis a oito jovens, durante uma cerimônia assistida por parentes e amigos, que participavam através de rezas especiais e celebrações associadas ao ritual da tatuagem. 
Assim como em Tonga, a tatuagem masculina em Samoa começava na cintura, mas em Samoa ela era estendida somente até abaixo do joelho. As mulheres também eram tatuadas nas ilhas Samoa, mas os desenhos eram limitados a uma série de delicadas flores e estrelas, de formato caracteristicamente geométrico, feitas nas partes baixas do corpo e nas mãos. 
Por volta do ano 200 d.c., viajantes de Samoa e Tonga chegaram às ilhas Marquesas. Ali, durante um período de mais de mil anos, aconteceu à evolução de uma das mais complexas culturas da Polinésia. 
A arte e a arquitetura marquesa foram altamente desenvolvidas e os desenhos característicos dali, os quais, em muitos casos, cobriam todo o corpo, estavam entre os mais elaborados de toda a Polinésia.
Oitocentos anos mais tarde, cerca de 1000 d.c., os polinésios haviam colonizado com sucesso a maioria das ilhas habitáveis a leste de Samoa. Traços culturais distintos evoluíram em cada um dos grupos de ilhas da Polinésia e, no tempo em que os europeus ali chegaram, as pessoas destes vários arquipélagos possuíam sua própria língua, mitologia e arte, incluindo estilos únicos de tatuagem.
Descrições isoladas e incidentais da tatuagem na Polinésia foram encontradas nos diários de bordo de navios europeus, que datavam do século 17 e início do século 18. Mas somente na ocasião da viagem do capitão Cook, em 1769, é que a arte de tatuar foi descrita com maiores detalhes. Aliás, quem tomou parte desse trabalho foi o naturalista Joseph Banks, um dos mais eruditos e estudados viajantes europeus. A arte também foi descrita e ilustrada por alguns naturalistas que, mais tarde, no final do século 18 e início do 19, acompanharam os exploradores. Mas, no geral, a maioria dos europeus apresentou um pequeno interesse pela arte ou pela cultura da Polinésia. Em muitas ilhas do Pacífico, os primeiros colonos europeus eram missionários que se opunham à tatuagem porque a arte estava relacionada com as práticas religiosas dos nativos que eram vistas por eles como superstição e bruxaria. 
Logo após os missionários vieram também os colonizadores, que disputaram a possessão das ilhas, saqueando todas as reservas naturais e forçando os nativos a adotar as roupas e trabalhar como escravos. Por ser considerada um hábito tradicional da Polinésia, a tatuagem tornou-se um símbolo de resistência à influência européia, sendo considerada ilegal por muitos dos regimes coloniais. 
Ironicamente, ao mesmo tempo em que a tatuagem estava desaparecendo no Pacífico, ela estava sendo adotada pelos ocidentais. Antes das viagens de Cook, a tatuagem era virtuosamente desconhecida na Europa. Integrantes da tripulação de Cook foram os primeiros europeus a serem tatuados e a moda da tatuagem se espalhou rapidamente na marinha, assim que os marinheiros retornavam para casa com exóticas marcas em seus braços, como lembranças de sua viagem às terras distantes. Os marinheiros aprenderam a técnica com os artistas polinésios, praticaram durante a viagem de navio e, depois, se aposentaram para montar estúdios de tatuagens nas cidades portuárias da Europa. 
A tatuagem é a única forma de arte da Polinésia que foi amplamente adotada e imitada pelos ocidentais. E demorou até o final do século 19 para que antropólogos viajassem ao Pacífico para estudar o rápido desaparecimento da cultura polinésia e fazer algum esforço para investigar o significado da tatuagem dentro do contexto da vida nativa. 
Alguns poucos artigos sobre o assunto apareceram em jornais escolares na virada do século e por volta da mesma época, vários antropólogos escreveram livros que incluíam descrições da tatuagem polinésia. Mas o que sabemos sobre a antiga arte de tatuar da Polinésia é somente um pequeno fragmento de todo o resto. A grande maioria dos desenhos, juntamente com a prosperidade das tradições associadas, mitos e observações religiosas foram perdidas para sempre. E nós sabemos um pouco do significado da tatuagem pela percepção dos próprios polinésios. Sabemos apenas sob o ponto de vista e a maneira registrada pelos europeus. 
A tatuagem na Polinesia hoje.   A única cultura polinésia na qual a tatuagem tradicional sobreviveu sem nenhuma espécie de interrupção e a das ilhas Samoa, onde a atitude tolerante dos colonizadores alemães durante a primeira década do século 20 tornou possível que os habitantes nativos mantivessem viva a tradição e transmitissem para seus herdeiros. Nos anos mais recentes, muitos dos habitantes das ilhas estão se orgulhando de sua herança cultural e revivendo muitas das artes da antiguidade, incluindo a tatuagem polinésia. Artistas contemporâneos estão utilizando as modernas máquinas elétricas para recriar os desenhos inspirados por velhas ilustrações, esculturas em madeira e outras artes da antiga Polinésia. A tatuagem na Polinésia hoje é uma demonstração de identidade pessoal, de afiliação ou respeito a uma certa cultura e, às vezes, como a marca de rebeldia e oposição ao poder dos colonizadores. 

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